"Love is the religion in me"

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Já fui carequinha igual a você



Essa manhã, com o livro carinhosamente presenteado pelo irmão Vitor na bolsa, fui tomar o sol das 8 em Copacabana. Praia já estava cheinha. Estendi minha canga Yin Yang azul preta e branca na areia. Passei protetor e abri o livro "Com qualquer um de nós".

Esqueci do sol e da praia. Mergulhei.

Foi como se eu tivesse posto um filme de minha experiência na tevê, foi um abraço de irmão após estes últimos 6 anos. Alguém que como eu sofreu preconceito, escutou palavras duras. Eu ainda vi o Yoga, a ciência do milênio, ser chamada de esoterismo. Vi pacientes bebendo coca eca cola enquanto faziam terapia e médicos preocupados demais com os honorários.

Foi assim comigo também irmão Vitor. Eu também era atleta. Corria de Ipanema ao Arpoador todos os dias ida e volta pela areia. Surfava de manhã e de noite. Estudava cinema e trabalhava com arte. Tinha acabado de retornar dos Estados Unidos após ter ganho o prêmio Fulbright, uma bolsa de estudos que incluía estágio de Jornalismo na CNN. Já havia estudado teatro em Nova York e tinha uma família completa e feliz lá no sul.

Só que esqueci de me reestruturar emocionalmente após uma perda que havia tido 4 anos antes, quando um noivo resolveu terminar o relacionamento se despedindo no aeroporto, depois uma temporada de 1 ano juntos nos EUA.

Cheguei aos 56 quilos e fui jogada no paraíso das festas chamado Praia da Ferrugem/Rosa. Isso em 2003. Tive depressão tratada com música alta e muito álcool. E me achava feliz. Quem nunca foi abandonado num aeroporto sem nunca mais ter tido direito de saber o motivo, ou ter visto a pessoa outra vez?

O Linfoma não Hodkin veio na coluna, entre T12 e L1, altura do Anahata e do Manipura. Coincidência, né? E que interessante que no seu livro você também aborda o interesse em se manter informado antes de sua família levar um choque. Eu também queria saber tudo, precisava proteger minha família. Eu soube que ficaria carequinha da silva, soube qual seria o tratamento, soube dos efeitos e perguntei ao médico: Tem cura?

Ele naquele dia, lembro bem, ele repetiu com cautela: "Você vai perder seus cabelinhos." E eu novamente - Tem cura?

Na verdade ele não tinha essa resposta. Essa resposta fui descobrir há pouco tempo. Eu queria saber se EU tinha cura, queria saber se o câncer iria ME curar.

Lembrei do texto que estudei semana passada, Tattva Bodhah de Sri Sankaracarya, onde ele relata que o conhecimento não vem de lugar algum. Ele está sempre aqui. Só fica coberto pela ignorância. Varrendo a ignorância, o conhecimento brilha.

O câncer fez isso comigo. Varreu um pouquinho, ainda que eu tenha muito o que estudar e meditar. Apontou meus padrões de comportamento, alguns que ainda seguem. Lançou luz sobre as sombras que eu tinha medo de iluminar mas principalmente retornou o responsável pela existência da doença ser um sujeito chamado EU, personagem dessa encarnação. E não Deus, e não Jesus, e não a vizinha de umbanda. Mas eu.

Concordo plenamente com o irmão nas suas pesquisas e em todo seu empenho com a meditação e com o que Dalai Lama chama de treinamento da mente. Precisamos acreditar mais no que somos. Acreditar mais nos pequenos passos, acreditar no propósito da vida, na importância de cada alma aqui encarnada, no exercício do outro em nos colocar num espaço do questionamento e ao mesmo tempo de quando somos nós que temos a missão de agir porque queremos ser verdadeiros com nossos sentimentos e crenças, independente de estar magoando alguém que não merecia - num campo relativo - estar passando por aquele sofrimento. E o significado que só iremos entender mais tarde?

Ontem assistindo o Professor Hermógenes na entrevista do filme Eu Maior, ele fala que os bons não estão livres do sofrimento. A diferença é que eles crescem com ele.

Irmão, irmãs, está tudo bem. Somos perfeitos... Ter me curado de um linfoma não me faz diferente daqueles que ainda lutam contra a doença ou que já se despediram deste plano. Eu luto diariamente para manter meu sistema imunológico acordado e saudável. É uma luta constante. É complicado não ter o direito de ficar triste ou fraquejar ou estar aberta a situações de risco emocional. Pode virar um pesadelo se eu não me manter num auto estudo constante, de mim e minhas oscilações.

A luta é constante: contra um câncer, contra uma Egoesclerose, contra a ignorância. A meditação é, sem dúvida, uma das melhores ferramentas. Fechando os olhos fica mais fácil suspirar e nessa expiração assoprar a poeira e espiar o que há debaixo dela.

Namastê


Livro: "Com qualquer um de nós", do irmão Vitor Caruso Jr.
www.cienciameditativa.com


3 comentários:

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  2. A cura é interna...que bom você ter se tornado essa pessoa linda e sensível!
    Chico disse: "Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito."
    Obrigada pelo lindo testemunho...bjo no coração!

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  3. Querida Miila,
    compreendo que a queda proposta pela ameaça de vida é dura de ser esquecida. Fico feliz que você a tenha aproveitado. A vida é isso, afinal de contas. Um novo fim pode ser escrito a partir de um novo passo, não é? Mas saiba, querida irmã, que a luta diária deve ser branda, fluida, tranquila. Você tem sim o direito a ficar triste, mas pode escolher não ficar, essa é a chave. Esse é o tesouro!
    Com muito carinho e amor,
    sua irmã, Lili

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